segunda-feira, 6 de julho de 2009

Resumo do texto "A Dinâmica dos grupos" de Jean Maisonneuve

Segundo Maisonneuve, o conceito de grupo envolve ‘(…) conjuntos sociais de variadíssima grandeza e estrutura, desde as colectividades nacionais até aos bandos mais efémeros. O único traço comum a todos estes conjuntos consiste na pluralidade de indivíduos e na sua solidariedade implícita, aliás mais ou menos sólida.’. A determinação exacta de cada grupo varia de acordo com os seus graus de organização e de função, assim como dos modos de interacção existentes. É deste modo que se determina ‘(…) a presença das dimensões estrutural, funcional e psicológica.’ (Maisonneuve, 1967).
Os grupos não são uma estrutura estática – desenvolvem-se e modificam-se ao longo do tempo.
Capítulo 1 – Correntes de Investigação e Noções de Base
O termo ‘dinâmicas de grupos’ surgiu pela primeira vez com Kurt Lewin, em 1944.
Deve-se distinguir um sentido lato e um sentido restrito da dinâmica de grupos:
- Sentido lato: envolve um grande conjunto de trabalhos consagrados aos grupos restritos. O traço comum ao sentido restrito prende-se com o facto de se considerar a vida dos grupos como o resultado de processos múltiplos que impulsionam e se devem identificar com precisão.
Dois aspectos importantes da teoria lewiniana:
1) A investigação e a intervenção devem estar estreitamente associadas;
2) A mudança e a resistência à mudança constituem um aspecto essencial na vida dos grupos.
Principais correntes de investigação
1. A corrente dinamista (lewiniana)
Objectivo: observar o comportamento do grupo ou do indivíduo no seu espaço.
Nesta teoria, o conceito de grupo relaciona-se com um conjunto de pessoas independentes.
O que se quer realçar é o nível psicológico dos membros do grupo, uma vez que no seio deste se desenvolve um sistema de tensões – positivas ou negativas – que o grupo terá que resolver. É aí que se encontra a dinâmica do grupo – na tentativa de encontrar o equilíbrio.
2. A corrente interaccionista
R. F. Bales propõe uma teoria baseada na observação sistemática de dados imediatos – processos de interacção entre indivíduos.
O investigador propunha um conjunto de hipóteses operacionais, cujas variáveis poderiam ser manipuladas.
Resume a interacção dos grupos às relações interpessoais entre os membros.
3. A corrente psicanalítica
Freud assumiu o seu interesse pela Psicologia Colectiva – introduziu os termos tensão, resistência, conflito, etc.
O problema que advém das teoria psicanalítica é que muitos investigadores limitam o mecanismo dos grupos freudianos às interacções entre a família [especialmente pais e filhos] e não têm em conta os comportamentos específicos dos grupos. Este é um ponto essencial acerca da dinâmica de grupos, uma vez que as acções e comportamentos dos grupos são extensíveis a todas as áreas da vida, ou seja, não são exclusivas ao grupo.
Rogers teve também um forte contributo para a dinâmica de grupos, tendo especialmente importância no domínio da formação.
Conceitos fundamentais
Dinâmica de grupos: interessa-se pelos componentes e pelos processos que intervêm na vida dos grupos – especialmente aqueles em que todos os membros existem psicologicamente uns para os outros e se encontram em situação de interdependência e de interacção potencial.
Capítulo II – O problema da coesão, conformismo e desviacionismo
A noção de coesão assume uma grande importância no estudo dos grupos.
Factores da coesão:
1) Factores extrínsecos: anteriores à formação dos grupos ou registados imediatamente antes da coesão dos grupos;
2) Factores intrínsecos: próprios do grupo, a partir do momento em que se torna coeso.
Os grupos em que os membros já se conhecem previamente e possuem características comuns, como a idade, profissão, etc, têm uma maior probabilidade de se tornarem grupos coesos e de comunicarem e participarem mais uns com os outros.
Os factores intrínsecos de coesão dividem-se em duas subcategorias:
1) Factores de ordem sócio-afectiva: engloba as motivações, emoções e valores comuns ao grupo;
2) Factores de ordem operatória e funcional: permitem ao grupo satisfazer as suas necessidades e seguir os seus fins.

I. Factores sócio-afectivos
a) O atractivo de um fim comum: depende das aspirações do grupo e é percebido mais facilmente em grupos não-espontâneos;
b) O atractivo da acção colectiva: meio para atingir o fim; mediação entre os membros do grupo, com fim a atingir determinado objectivo;
c) O atractivo da pertença ao grupo: desejo de um esforço comum que leva a que os membros do grupo queiram atingir o fim;
É o conjunto de todos os factores que levam a que o grupo tenha sucesso ou não, assim como determina a identificação dos membros com o seu grupo e a intensidade do sentimento de pertença ao grupo.
II. Os factores sócio-operatórios
a) a distribuição e a articulação dos papéis: depende das actividades a que se propõe e à capacidade de as realizar;
b) o comportamento do grupo e o modo de liderança: cada membro do grupo assume um papel dentro do mesmo – advém daqui a noção de que tem de haver um líder em cada grupo;
Conformismo e desviacionismo
A coesão manifesta-se por um conjunto de comportamentos colectivos, que constituem factores dinâmicos.
1. Conformismo: relaciona-se com a presença de normas e modelos colectivos específicos. À medida que estas normas se vão manifestando, começam-se a observar comportamentos, opiniões e sentimentos uniformizados.
2. Os comportamentos desviacionistas: todo o comportamento que se afasta das normas. De acordo com as teorias de dinâmica de grupos, quando um elemento do grupo assume comportamentos desviantes, torna-se ineficaz e consequentemente é afastado do grupo.
3. In Group e Out Group: a própria estrutura do grupo leva a que se crie uma agressividade potencial para com o exterior, o que leva a uma maior coesão intergrupo.
As investigações experimentais
Estudo dos processos de coesão em relação aos fenómenos de tensão intergrupos – M. Scherif faz uma série de experimentações sobre o terreno onde a dinâmica dos grupos é relevante, tanto nos seus aspectos internos como sob forma de conflitos colectivos com as suas significações culturais.
A ideia principal era eliminar ao máximo factores extrínsecos anteriores à formação dos grupos.
Conclusões:
1) Influência do quadro grupal nas selecções interpessoais e a importância do fenómeno colectivo da endofilia;
2) Persistência dos modelos globais – o progresso da coesão intragrupo é acompanhado por um risco de tensão intergrupo;
3) Intervenção – emergência de fins e aspirações comuns aos adversários que se pretendem ver reunidos.
Capítulo III – Mudanças e resistência às mudanças
Resistência à mudança provém:
1) Carácter coercitivo da própria mudança;
2) Inércia social;
3) Influência social;

1. Investigação sobre a mudança dos hábitos alimentares (Lewin e colaboradores)
Conclusões:
1) O compromisso das pessoas que são convidadas a participar no processo de mudança é mais intenso do que aquelas que apenas recebem a informação – movimento colectivo de evolução das atitudes.
Interpretação teórica:
- Lewin concluiu que uma das maiores resistências da mudança dá-se devido ao medo de fugir às normas do grupo – é mais fácil mudar os hábitos de um grupo do que de um indivíduo isolado.
- os fenómenos de resistência devem estar devidamente contextualizados.
Extensões:
Teoria de Lewin – intervenção planificada e generalizável [fazer um inventário da situação – agir sobre os pontos estratégicos pondo em jogo as normas do grupo – consolidar as normas]
2. Investigação sobre a mudança dos métodos de trabalho (Corrente Lewiniana – Coch e French)
Experimentação sobre o terreno em que se manipulam as variáveis.
Conclusões:
Verdadeiros métodos de introdução da mudança – a informação e a participação voluntária provocam uma diferença significativa nas atitudes e comportamentos.
3. Valor e limites destas experiências – o problema da participação
Os trabalhos dos dinamistas determinaram importantes factores psicossociais de resistência à mudança e meios para a reduzir.
Em conclusão, a concepção lewiniana sobre a mudança deve ter em conta a contribuição psicanalítica no que concerne às resistências inconscientes e uma contribuição sociológica no que respeita ao jogo dos conflitos e das negociações.

Capítulo IV – Processos de interacção
Eubanck, define interacção como uma “força interna da acção colectiva vista da parte daqueles que nela participam”, defende que existem dois tipos: a interacção por oposição (conflito e competição) e a interacção por acomodação (combinação e fusão). A interacção corresponde a um processo circular.
I. A Análise Sistemática das Interacções
Bales pretende transpor para o terreno psicossocial as interacções, criando assim um sistema de categorias e suas normas. Segundo Bales existem 12 categorias que se aplicam aos processos dentro da área sócio-afectiva positiva; da área das funções sócio-operatórias e da área sócio-afectiva negativa. Depois de uma série de análises, Bales defende que em determinadas condições marcantes todo o problema do grupo opta por um processo-tipo de resolução. A par disto, alega que existem normas válidas que passam de uma fase de informação; a uma de avaliação; passando por uma de influência; busca de controle e por finalmente pela fase de decisão. A composição e natureza dos grupos vai influenciar o equilíbrio temporal das diferentes fases. Com a análise dos perfis de interacção, verificamos a acentuada desigualdade quantitativa e qualitativa ao mesmo tempo, isto é o número de interacções produzidas e recebidas por cada indivíduo. Outro dos pontos desta teoria, concerne à estrutura da influência de centralização, em torno do líder, consoante o seu estilo de comunicação ser mais ou menos directivo. Esta teoria de Bales aplica-se exclusivamente a situações verbais de discussão.
II A achega clínica dos papéis
Sabemos que existem uma série de estudos clínicos quanto à emergência dos papéis nas situações colectivas.
Um dos grandes contributos resultou do estudo de Benne e Sheats, que distinguem três categorias de papéis no seio do grupo:
 Os papéis relativos à função (facilitam e coordenam o esforço do grupo em relação à definição dos objectivos e os meios de os atingir);
 Os papéis relativos à manutenção da vida colectiva;
 Os papéis individuais (satisfação de necessidades individuais próprias).
Dentro dos papéis individuais foram destacados o dominador ( que procura demonstrar a sua superioridade independemente das exigências situacionais); o dependente (tenta estar seguro pela simpatia e amparo); o amante do prestigío (visa fazer-se valer e chamar a a tenção para todos os meio) e o “homem considerado” (aproveita a situação colectiva para exprimir os seus problemas individuais). A estes Benne e Sheats juntaram o do “advogado dos interesses particulares” e o do “Play-boy”.
Contudo esta análise clínica apesar de descrever os papéis do indivíduo no grupo, não interpretando a interação grupal, deve ser integrada para melhor se compreender a compatibilidade da açeitação dos papéis.
Capítulo V – Liderança e influência social
Quanto à liderança devemos ter em conta uma tríplice perspectiva:
 Liderança como função do grupo;
 Liderança como relação;
 Liderança como aptidão individual;

I. Liderança como função
O líder deve estra habilitado para exercer um poder determinável sobre o comportamento de um grupo de pessoas. Podemos assim definir liderança como um sistema de comportamento exigido para e pelo funcionamento do grupo, como uma condição e uma qualidade dinâmica da sua estruturação.
Na liderança podemos destacar um duplo aspecto:
 aspecto sócio-operatório, que diz respeito aos fins e à realização das tarefas próprias dos grupos, podemos assim precisar as operações que permitem atingir os fins, nomeadamente de operações concernentes à informação e ao método de trabalho; de operações concernentes à coordenação das achegas e dos esforços e de operações concernentes às tomadas de decisão;
 aspecto sócio-afectivo, para além dos factores técnicos e metodológicos, introduz-se a importância do clima psicológico que existe no grupo, este depende da motivação e do interesse pela tarefa.
De acordo com o tipo de liderança temos diversas intervenções, nomeadamente intervenções que visam a estimulação e a manutenção; intervenções que visam a facilitação social; intervenções que visem a elucidação dos processos e do grupo.
Em suma , devemos saber que estes dois processos (operatório e afectivo) exercem bastante interferência no decorrer da actividade colectiva e implicam solidariamente todos os membros do grupo e não só o líder (formal ou informal).~
II. Os Tipos de Liderança e os seus efeitos
Weber, distinguia três tipo de liderança:
 O chefe carismático;
 O chefe tradicional;
 O chefe democrático.
A par deste Redl, tinha outra perspectiva alegando que o líder é a pessoa central, sobre o qual incidem a emoção e atenção, distingue assim 10 tipos que agrupa em três categorias: o tipo autoritário; o tipo cooperativo e o tipo manubrador. A par destes que possuem maior influência também devemos considerar o tipo elucidador e o tipo “deixa correr”.
Em suma, o impacto do chefe está bastante relacionado com a satisfação das suas necessidades pessoais, das dos outros e das exigências.
III. As investigações experimentais
Desde há muitos anos que existem inúmeras investigações no campo da liderança pretendendo-se assim, o estudo das características pessoais dos líderes para verificar a sua influência no seio do grupo. Pretende-se nomeadamente verificar as variações desta influência em função da tarefa ou do problema a resolver e por outro lado, dos estilos de liderança e do “clima” colectivo que daí resulta.
Estas investigações experimentais deram um contributo bastante importante quanto à medida da influência; quanto aos efeitos comparados dos diferentes modos de liderança sobre o rendimento e o “clima” colectivo e quanto à influência das redes impostas de comunicação e do programa de trabalho sobre a emergência do líder e a pertinência do seu estilo.

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